segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sonho



Naquele dia eu viajei
Pelos mares na calda
De um cometa amarelo
Ao pousar senti minhas
Espinhas tremerem e
Um calafrio repousar-se
Em mim...

Extasiada eu observei
Aquele lugar, com
Uma aparência de susto provavelmente
Desenhada em minha face

Era lindo...
E não era mais o mar
Era o céu...

A princípio eu não
Estava entendendo nada
Há instantes eu me via
Sufocada, debatendo-me
Entre as águas, tentando
Encontrar, desesperadamente
Qualquer vestígio de ar
Depois eu estava ali
Via anjos envolta com suas
Asas transparentes e de um
Cristal fabuloso...

Tinha um homem barbudo
E eu parecia, a todo o momento
Que estava flutuando
Eram nuvens, e de fato, eu estava flutuando

Perguntei a Deus, assustada
O que estava acontecendo
E o mesmo homem barbudo
Respondeu: "Minha filha,
Não se assuste você ficará bem"
Segundos depois, meus pulmões
Repulsavam como se estivessem
Procurando o mesmo que eu:
Respirar

E depois, não eram mais nuvens, nem águas
Era a minha cama
Bom, não sei se era sonho ou pesadelo
Mais a imagem daquele homem
Nunca saiu da minha cabeça.


Raiele Malta

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Um Trem Para a Estrelas


São 7 horas da manhã
Vejo Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem

Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas

Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem protejer ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois


Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas

No dia 07 de Julho de 1990, o MAIOR POETA dos últimos tempos foi embora e pegou o seu Trem Paras as Estrelas. Agenor de Miranda Araújo Neto (Cazuza)
Queria viver 70 anos, na terra vieveu apenas 32, mas em nossos corações viverá eternamente.


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Meu Mundo


Sabe o meu mundo?

Ele parece uma rosa, sinto que me tocam com delicadeza
E me arremessam com fúria.
Sinto que me colhem, me plantam, me regam, e eu cresço instantaneamente.

Mais é uma rosa vermelha, pecaminosa, inconstante, vulnerável.
Todas as mão me tecem em um labirinto de pecados.

Meu mundo é pequeno, meus espinhos são os mais cruéis,
Parecem farpas, me cortam os punhos e me serra a alma, depois murcha me vetando a respiração.

Meu mundo é um vulcão em erupção.

E eu que pensava que era uma rosa.

Raiele Malta.


domingo, 4 de julho de 2010

Mentiras


Eu vou maltratar corações,
Quando corações não me interessarem mais.
Minto, eles sempre me interessarão.

Eu vou me jogar no infinito e mergulhar em águas profundas,
Só pra cair em teus braços.
Minto, eu não sei nadar.

Eu vou colher as flores de um jardim de mortos.
Rezar por eles e planta-las em pedras de diamantes.
Minto, elas não brotariam mais.

Eu vou pegar estrelas despedaçadas,
Costurá-las em seda e fazer uma coroa de brilhantes.
Minto, eu não sei costurar.

Eu vou cair de joelhos num céu de areia,
Meditar na luz da aurora
E desenhar corações com pincel linear.
Minto, eu não sei desenhar.

Eu vou fechar os olhos, parar de mentir,
E amar. Só amar.

Raiele Malta


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Mundo da Lua


Permanecer lúcida era uma tarefa difícil
Pra quem se acostumou a vier na lua.

E mesmo que a realidade rudemente a acordasse
Existia nela grandes vestígios de fantasias.

Alegrava-se a prender todas as borboletas
Azuis em um mural de flores até formar o mais lindo quadro vivo.
E elas se debatiam com força,
E ela as observava com malícia, meio sem juízo.

Todavia, ela as amava e só queria para si a alegria de telas.
Não suportava a idéia de perdê-las, e como toda menina teimosa, também não hesitava em aprisioná-las.

Seu céu de um marinho tão ofuscante, que se via sempre a contemplá-lo.
Seu jardim de um colorido misto, em um aroma entorpecente.
Rogava-o todo dia, perdida em um gozo delirante.
Seu mar tinha as águas adormecidas, mais ainda assim eternamente belo.

E ela voava.
Sonhava.
E pegava nas mãos todas as estrelas do céu.

E quando abruptamente trazida a terra, envolta em seu véu, queria ela desesperadamente voltar para a lua.

Raiele Malta